Brasil investe menos da metade da média global em logística
25/03/2025 - Logística
TCU destaca que o país está transferindo a ineficiência logística para o mercado interno em detrimento dos corredores de exportação

Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia

Ineficiência logística no Brasil torna produtos mais caros | Imagem meramente ilustrativa gerada por IA | Frota&Cia

A deficiência crônica de investimentos em infraestrutura de transporte no Brasil tem impactado diretamente a economia, elevando custos logísticos e reduzindo a competitividade do país. Dados do Acórdão 2000/2024, do Tribunal de Contas da União (TCU), revelam que o Brasil aplica proporcionalmente menos da metade do valor destinado por nações de renda média no setor. O resultado é um sistema logístico oneroso, em que os gastos com transporte de carga consomem 13% do PIB, que foi equivalente a R$ 1,3 trilhão em 2022.

Custo logístico impacta consumidor

Enquanto países desenvolvidos destinam em média 7% do PIB a despesas logísticas, no Brasil esse percentual quase dobra, pressionando preços e corroendo a eficiência produtiva. Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI, 2022) mostra que, para o setor industrial, o frete representa 15% do valor final das mercadorias. A falta de investimentos em modais alternativos, como ferrovias, agrava o problema: mais de 36% da malha ferroviária nacional está ociosa, enquanto apenas 12,6% opera em alta capacidade.

Exportação é priorizada

O relatório do TCU aponta uma disparidade no planejamento logístico: enquanto o escoamento de commodities para exportação recebe atenção, o transporte doméstico – responsável por 67% da carga movimentada no país – enfrenta deficiências crônicas. “As cargas domésticas representam dois terços (67%) de toda carga transportada no país. Isso de certa forma é chocante quando se para para pensar que praticamente todas as políticas, todas as informações e tudo o que se conversa a respeito de transporte se referem a corredores de exportação”, afirma Kauê Lunard Kawashita, auditor do TCU.

A predominância do modal rodoviário, que responde pela maior parte do transporte interno, gera uma série de problemas: frota envelhecida, estradas deterioradas, maior emissão de poluentes e riscos elevados de acidentes. “O grande esforço do país é baratear os caminhos logísticos da exportação, mas isso está deixando para o mercado interno toda a ineficiência que a gente não consegue atacar”, critica Maurício Ferreira Wanderley, diretor de auditoria em infraestrutura portuária e ferroviária do TCU.

Falta planejamento e transparência

O documento do TCU também destaca a ausência de diretrizes estratégicas e a carência de dados transparentes sobre o setor. Não há diagnósticos consolidados que identifiquem os principais gargalos logísticos ou orientem políticas públicas eficientes. “Os projetos são decididos sem garantir que eles são as melhores alternativas. Carteiras de projetos são decididas sem considerar os corredores logísticos intermodais“, ressalta André Ferreira, diretor-executivo do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA).

Como solução, o TCU recomenda a adoção de um planejamento robusto, com regulação mais eficiente e maior participação social. O Plano Nacional de Logística 2050 (PNL 2050) surge como oportunidade para corrigir essas falhas, mas especialistas alertam: sem medidas urgentes, o Brasil seguirá perdendo competitividade e comprometendo seu desenvolvimento econômico e ambiental.

Recomendações do TCU:

  • Priorizar investimentos em modais eficientes, como ferrovias;
  • Criar mecanismos de transparência e governança logística;
  • Integrar dados para embasar políticas públicas;
  • Estabelecer critérios técnicos e socioambientais na seleção de projetos.

Enquanto isso, o setor produtivo e os consumidores seguem arcando com os custos de um sistema logístico fragmentado e desigual.